sexta-feira, 6 de junho de 2014

Orações e Benzimentos

As orações, rezas, benzimentos, e responsos eram muito usados pelos nossos antepassados. E nesse gênero também, o nosso folclore é rico. Constituíam um fato curioso porque a religião se associava à superstição sem que, com isto, os devotos deturpassem a sua fé. No Estado da Bahia ainda é comum os católicos praticantes, louvarem Iemanjá, respeitarem o Caboclo, a Cabocla, a Mãe d’água, usarem benzimentos, etc. Dentre as nossas usanças recolhemos as seguintes: Para tirar “olhado”, principalmente nas crianças que, com sua beleza pura e inocente, estavam sujeitas com mais facilidades aos “maus olhos”, havia esta oração: “Deus, quando andou pelo mundo, numa casa chegou e encontrou: homem bom e mulher má, esteira velha em canto molhado. Deus te tire este olhado, Pelas Três Pessoas da SS. Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo – Amém”. Repetia-se a mesma coisa três vezes, fazendo cruzes com um raminho de mato. Quando as folhas murchavam (isto sempre acontecia com o calor da mão) e a benzedeira bocejava três vezes, a criança estava com “olhado”. Caxumba era curada do seguinte modo: o doente dizia: “caxumba, minha caxumba, com você não quero nada; tome lá esta “imbigada”. E dava umbigadas em três cantos da casa. Os antigos tinham benzimentos para tudo. A erisipela, por exemplo, era “medicada” com os seguintes versos: “Pedro e Paulo foram a Roma, e Jesus Cristo encontrou. Este lhes perguntou: Então, que há por lá? Senhor, erisipela má. Benze-a com azeite, e logo te sarará”. Mesmo as pessoas mais piedosas, que levavam uma vida plasmada pela religião, não deixavam de acreditar nos benzimentos e levavam seus filhos para que as benzedeiras os curassem de seus males, como: torceduras, “ventre caído”, icterícia, torcicolo, “olhado”, etc., e também não deixavam de usar, pendurados no pescoço, cruzes e patuás. Ao se deitarem, além das orações comuns, rezavam a que vamos transcrever numa homenagem àquela que no-la ensinou: “Com Deus me deito, com Deus me levanto, Com a graça de Deus e do Espírito Santo. Se dormir muito, acordai-me, com todas as tochas de vossa Trindade, na mansão da eternidade”. Para curar icterícia a pessoa doente teria que urinar num tijolo quente. Torceduras – a benzedeira munia-se de uma trouxinha de pano com agulha e linha. Fazendo orações, massageava a parte doente e de vez em quando dava uns pontos na trouxinha, perguntando ao paciente: - O que coso? - Carnes quebradas e nervos torcidos. - Isto mesmo eu coso. Assim, sempre dando massagem e costurando o pano, repetia a operação três vezes. Cobreiro curava-se fazendo cruzes de tinta de escrever em toda a região afetada pela dermatose, atribuída ao contato das roupas com alguma cobra, e rezando-se esta oração: “Santana gerou Maria, Maria gerou Jesus. Assim como estas Palavras são verdadeiras, Deus seque este cobreiro, Com a cruz de N. S. Jesus Cristo. Amém”. Quando a cidade era infestada por qualquer epidemia, a par da fé que depositava na Virgem Santíssima, usavam também pregas atrás da porta de entrada, tentando impedir a entrada do mal, uma oração escrita em forma de cruz: Além das inúmeras orações e benzimentos, invocavam os Santos nas suas necessidades. Para curar a vista invocavam a proteção de Santa Luzia: “Santa Luzia passou por aqui, com o seu cavalinho comendo capim. Perguntei se queria água, disse que não. Perguntei se queria milho, disse que sim”. Enquanto estas palavras eram pronunciadas puxava-se a pálpebra superior. Para afastar baratas repetiam-se estas palavras em todos os cômodos da casa: “Jesus, Maria, São José, São Bento, tirai as baratas deste aposento”. Rogava-se a proteção de Santa Bárbara e São Jerônimo para aplacar as tempestades. “O taumaturgismo do “responso” do santo lisboeta trazido para o seio de Deus em Pádua” – Santo Antônio – era invocado para encontrar objetos perdidos e para arranjar casamento. Colocava-se sob a sua imagem bilhetinhos com os pedidos e o nome da pessoa amada. “São Brás, no prato tem mais”. Muitas eram as crendices dos nossos ascendentes. Ao lado do travesseiro do recém-nascido, colocava-se uma tesoura de aço aberta ou mesmo uma faca, sobre o livro Horas Marianas, aberto na página onde se via uma estampa da Sagrada Família para afugentar as bruxas que vinham durante a noite sugar o sangue da criança. Quando se tomava purgante, segurava-se uma chave para evitar vômitos. O medo do Saci Pererê herdamos dos nossos ancestrais índios. Já a crença no lobisomem, na bruxa, na mula-sem-cabeça, na pata e todas essas crendices “zoometamórficas” nos vieram do folclore ariano. Fonte: Vila Velha de Outrora Autora: Maria da Glória de Freitas Duarte – Vitória,1990 Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2012

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