quarta-feira, 16 de março de 2011

Tambor de Mina



Tambor de Mina
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Tambor-de-Mina

Religiões afro-brasileiras



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Princípios Básicos

Deus
Ketu | Olorum | Orixás
Jeje | Mawu | Vodun
Bantu | Nzambi | Nkisi


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Templos afro-brasileiros
Babaçuê | Batuque | Cabula
Candomblé | Culto de Ifá
Culto aos Egungun | Quimbanda
Macumba | Omoloko
Tambor de Mina | Terecô | Umbanda
Xambá | Xangô do Nordeste
Sincretismo | Confraria




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Religiões semelhantes
Religiões Africanas Santeria Palo Arará Lukumi Regla de Ocha Abakuá Obeah


Tambor de Mina é a denominação mais difundida das religiões Afro-brasileiras no Maranhão e na Amazônia. A palavra tambor deriva da importância do instrumento nos rituais de culto. Mina deriva de negro-Mina de São Jorge da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge da Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.

O Maranhão foi importante núcleo atração de mão de obra africana, sobretudo durante o último século do tráfico de escravos para o Brasil (1750-1850), e que se concentrou na Capital, no Vale do Itapecuru e na Baixada Maranhense, regiões onde havia grandes plantações de algodão e cana-de-açúcar, que contribuíram para tornar São Luís e Alcântara cidades famosas entre outros aspectos, pela grandiosidade dos sobradões coloniais, construídos com mão de obra escrava e pela harmonia, beleza e coreografia das musicas de origem africana.

Como as demais religiões de origem africana no Brasil (Candomblé, Umbanda, Xangô, Xambá, Batuque, Toré, Jarê e outras), o tambor de mina se caracteriza por ser religião iniciática e de transe ou possessão. No tambor de mina mais tradicional a iniciação é demorada, não havendo cerimônias públicas de saída, sendo realizada com grande discrição no recinto dos terreiros e poucas pessoas recebem os graus mais elevados ou a iniciação completa.

A discrição no transe e no comportamento em geral é uma características marcante do tambor de mina, considerado por muitos como uma maçonaria de negros, pois apresenta características de sociedades secretas. Nos recintos mais sagrados do culto (peji em nagô, ou côme em jeje), penetram apenas os iniciados mais graduados.

O transe no tambor de mina é muito discreto e as vezes percebível apenas por pequenos detalhes da vestimenta. Em muitas casas, no início do transe, a entidade dá muitas voltas ao redor de si mesmo, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, talvez para firmar o transe, numa dança de bonito efeito visual. Normalmente a pessoa quando entra em transe recebe um símbolo, como uma toalha branca amarrada na cintura ou um lenço, denominado pana, enrolado na mão ou no braço.

No Tambor de Mina cerca de noventa por cento dos participantes do culto são do sexo feminino e por isso, alguns falam num matriarcado nesta religião. Os homens desempenham principalmente a função de tocadores de tambores, isto é, abatás, daí a definição abatazeiros, também se encarregam de certas atividades do culto, como matança de animais de 4 patas e do transporte de certas obrigações para o local em que devem ser depositados. Algumas casas são dirigidas por homens e possuem maior presença de homens, que podem ser encontrados inclusive na roda de dançantes.

Existem dois modelos principais de tambor de mina no Maranhão: mina jeje e mina nagô. O primeiro parece ser o mais antigo e se estabeleceu em torno da Casa grande das Minas Jeje (Querebentan de Zomadônu), o terreiro mais antigo, que deve ter sido fundado em São Luís na década de 1840. O outro, que lhe é quase contemporâneo e que também se continua até hoje é o da Casa de Nagô, localizada no mesmo bairro (São Pantaleão) a uma quadra de distância.

A Casa das Minas é única, não possui casas que lhe sejam filiadas, daí porque nenhuma outra siga completamente seu estilo. Nesta casa os cânticos são em língua jeje (Ewê-Fon) e só se recebem divindades denominadas de voduns, mas apesar dela não ter casas filiadas, o modelo do culto do Tambor de Mina é grandemente influenciado pela Casa das Minas.

Nos terreiros de Tambor de Mina é comum a realização de festas e folguedos da cultura popular maranhense que as vezes são solicitadas por entidades espirituais que gostam delas, como a do Festa do Divino Espírito Santo, o Bumba-meu-boi, o Tambor de Crioula e outras. É comum também outros grupos que organizam tais atividades irem dançar nos terreiros de mina para homenagear o dono da casa, as vodunsis e para pedir proteção às entidades espirituais para suas brincadeiras. Sérgio Ferretti: "No Tambor de mina do Maranhão pouco se fala em Oxum, Oiá e Obá, conhecidas nos terreiros influenciados pelo candomblé. Os orixás e voduns se agrupam em famílias ou panteões."

1 Casas de Culto em São Luís
2 Cânticos em Jeje-fon/Iorubá-nagô e outras Doutrinas
3 Referências
4 Ligações externas
Casas de Culto em São LuísCasa das Minas ou Querebentã de Toy Zomadonu - fundada em meados do século XIX, e segundo Pierre Verger, por Nã Agotimé, da família real de Abomey, esposa do rei Agonglô, mãe do rei Guezô do Daomé, trazida como escrava para o Brasil, e aqui conhecida pelo nome de Maria Jesuína. A casa dedica-se ao culto jeje dos voduns, que estão organizados por famílias, a saber: Davice que é a principal, hospedando as demais: Dambirá (Damballah), Quevioçô (Heviossô), Aladanu e Savalunu. É considerada a mais antiga casa de tambor de mina no Maranhão, localizada à rua de São Pantaleão, no centro histórico de São Luís.

Casa de Nagô (Nagon Abioton) - fundada por africanos de tradição yourubá, mais precisamente, de Abeokuta, deu origem a outros terreiros de São Luís, em que são recebidas entidades africanas jeje-nagôs ou (iorubás): Doçu, Averequete, Ewá, Aziri, Acóssi, Sakpatá, Nanã Buruku, Xapanã, Ogum, Xangô, Badé, Locô, Iemanjá (Abê), Lissá, Naeté, Sogbô, Avó Missã dentre outros; gentis de origem européia ou caboclas de origem nativa: Dom Luís Rei de França, Dom João, Dom Floriano, Dom Sebastião, Toy Zezinho de Amaramadã, Rei da Turquia, S. Ricardino, S. Caboclo Velho, Princesa D’Ôro, S. Guerreiro, D. Mariana, S. Légua Boji, S. João da Mata e muitos outros. Segundo relatos, foi fundada à época de D. Pedro II por malungos africanos "de Nação", ajudados pela fundadora da Casa das Minas. Localizada na Rua Cândido Ribeiro no centro histórico de São Luís, a Casa de Nagô é considerada irmã da Casa das Minas, que juntamente com esta influenciou os demais terreiros de São Luís.

Outros dois terreiros antigos merecem ser lembrados: o Terreiro do Egito (Ilê Axé Niamê) e o Terreiro da Turquia (Ilê Nifé Olorum) (já extintos) que originaram vários outros terreiros, com destaque para a Casa Fanti Ashanti, de Pai Euclides Ferreira sendo a única com espaço dedicado ao candomblé; Casa de Iemanjá (Ylê Ashé Yemowa), de Jorge Itaci (falecido em 2003); Terreiro Fé em Deus, de mãe Elzita. Merece destaque o Ylê Axé de Otá Olé (Terreiro de Mina Pedra de Encantaria, de Pai José Itaparandi. Alguns terreiros dedicam-se ao Tambor de Mina, mas também a algumas sessões de Umbanda, como por exemplo, o Terreiro de Pai Oxalá e Mamãe Oxum de Pai Joãozinho da Vila Nova.

No Maranhão, especificamente, em São Luís, há uma diversidade de terreiros, até hoje não catalogados. Além disso muitas casas funcionam precariamente principalmente por dificuldades financeiras. Acredita-se que existem mais de 200 terreiros espalhados na capital definindo-se como Mina, Umbanda ou Mata (Encantaria de Barba Soeira). Em Codó, a "Meca" do Terecô, os terreiros são também numerosos, sendo mais conhecido a "Tenda Espírita de Umbanda Rainha de Iemanjá", de Bita do Barão. Existem terreiros de mina chefiados por pais e mães de santo, feitos no Maranhão, ou de origem maranhense, no Piauí, Pará, Amazonas, e em São Paulo, como por exemplo a Casa de Minas Thoya Jarina, de Toy Vodunnon Francelino de Shapanan ‎
Cânticos em Jeje-fon/Iorubá-nagô e outras DoutrinasDe abertura:

Imarabô é mojubára
Egba e koshé
Omodê boji koi abô abô é mojubá
Legba Eshu Lonã
Outro:

Ô mina telê telê
Imassaila taió taió
Secila é malajokê
Boboromina saíla vodum
Eko Abê eko agá
Eko omodê ô, eko omodê ô, kirielé omodê ô
Para Xangô:

Faraê faraê aê
Shangô numa velê, kabê!
Éde mariolê, é demariolá, okê
Orisá, ori Shangô, kié meó keshé keshé
Ora missã orubajô
Kabê kabecile
Éde pá epá êp êp!
Faraê...
Outro:

Kaô anana irê kaô! Agongon jelé
Shangô alodô, agô irô misselé
Para Averequete:

Verequetinho é sualá
Euá mandô sualá
Verequetinho, verequetinho...
Outra:

Averequete na c'roa de lôro, avuô pombo d'ôro ô pombo do ar
Averequete na c'roa de lôro, pombo d'ôro ô pombo do ar
Outra:

Ô maizá, maizá ôi zará, Verequete é do maizá
Ô maizá, maizá ôi zará, Verequete é do maizá
Para Toy Zezinho:

Ele é guma, ele é mailô
Ele é guma, ele é mailô
Toy Zezinho ele é mailô
Outro:

Toy Amaramadã, Toy Amaramadã, Zezinho!
Toy Amaramadã, Zezinho!Toy Amaramadã, Zezinho!
Para os voduns jejes:

O piná piná pina na basila mato sanje
Erunkó Bossukó girijó erun Dã Daomé
O pina pina pina na bacila mato sanje
Bo bossokó girijó erun Dã Danumé
Para Badé:

Badé Zoro di mapá
Badé zoro di mapá
Ele é zoro, zoro
Zoro di mapá
Para Yemanjá/Abê:

Édelá, ède manjá
Agbê Sesila olodô
Édelá, ède manjá
Agá Sesila olodô
Para Ogum:

Kwê kêro mimalá , Kwê kêro mimalá, Kwe kero mimalá
Kwê kêro Ogum ô
Para Ogum:

Okê Okê otobi odé, ai céu céu Ogum ô
Fala maré kwê, Fala maré kwê, Ogum abá é Ogum ô, Ogum abá Ogum ô
Kwê kê Ogum, kwê kwê
Kwê kê Ogum, kwê kwê
Para Euá:

Euá mandou salvar, Euá madou salvar
Ela mesmo era quem vinha, Euá mandou salvar!
Outro:

Euá ô kié é, Euá ô kié é
Orixá eu quero guia!
Euá ô kié é, Euá ô kié é
Orixá eu quero guia!
Outro:

Euá, Euá da mina bobossa Euá
Euá, Euá, Euá
Da mina tobossa Euá
Para Lissá/Oxalá:

Jan da maramadã aê, jan da maramadã aê
O Badé Abacossu, naveó Messan Oruarina
Erun obatá ô Lissá sideô avereço
Jan da maramadã Lissá, jan da maramadá Lepá
Para o Vodum Dã/Dan:

Ei Dan, Ei Dan, Ei Dan!
É um Vodun So na Mina de Dan, Aê Dan
Ei Dan, Ei Dan, Ei Dan!
É um Vodun So na Mina de Dan, Aê Dan
Outro:

Han-han gibê, Hê un Dangibê
É kpa hunkó, vodum maió danumé
Han-hangibê, Hê un Dangibê
É un tohuió, vodum maió danumé
Para Maria Barbara ou Barba Soeira

Raiou Mamãe Barba, raiou Maria Bárbara
Raiou Mamãe Barba, raiou Maria Bárbara
Anaicô, anaicô! hoje é dia de folgar, senhor!
Ô Santa Bárbara lançou pedra no mar
Anaicô, anaicô! hoje é dia de folgar, senhor!
Ô Santa Bárbara lançou pedra no mar
Outro

Ô lá vem Barba nas ondas do mar
Ô Barba vem rolando é no rolo do mar
Outro

Minha divina Santa Barba, ô venha ver seu mundo
Ô mar, ô céu, ô venha ver seu mundo
Para a Princesa Oriana

Oriana das ondas do mar, Oriana das ondas do mar
Oruana é a flor do mar, Oruana é a flor do mar
Outro

ô mike éle, O mike éle, ô mike éle anaicô!
Boboromina chegô agora
Oruana das ondas do mar, Oruana das ondas do mar
Para D. Luís Rei de França:

Venceu Brasil, Venceu Brasil, Venceu Brasil
Ganhou aliança
D. Luís é Rei, D. Luís é Rei de França!
Para D. José Floriano:

Ele é o Rei do Mar ancião! Ele é o Rei do Mar ancião!
Ô vem cavalgando seu cavalo no passar do Boqueirão
Para S. Légua Boji

A família de Légua está toda na eira
Ô bebendo cachaça,ô quebrando barreira
A família de Légua está toda na eira
Ô bebendo cachaça,ô quebrando barreira
Outro:

Seu Légua tem doze bois na Ilha do Maranhão
Vou levar minha boiada, da mata pro sertão
Boi, boi, boi! Tire as tamancas do boi S. Légua
Outro:

Meu pai é Légua Boji, eu sou Boji Buá
É mar, é ceu, é ceu é mar!

Para D. Mariana

No rio Negro os mururus viraram flores
Na mata virgem o sabiá cantou
Ela é a cabocla Mariana
A bela turca que aqui raiou
Outro:

Lá fora tem dois navios, na praia tem dois faróis
É a esquadra da marinha brasileira, Mariana!
Lá na praia dos Lençóis
Para D. Sebastião:

Ê rei, ê rei, rei Sebastião
Se desecantar Lençol
Vai abaixo o Maranhão
Para S. João da Mata

Sou caboclo da bandeira, da folha do ariri
Sou caboclo da bandeira, pedra de Itacolomi
Sou caboclo da bandeira, João da Mata falado...
De encerramento para Voduns:

Levara vodum idô
Acuntirê é de aladónon
Levara, levara, lebara, dadá missô
De encerramento para Gentilheiros e Caboclos:

Azakerê, kerê ô levara vodum
Azakerê, kerê ô levara vodum
Há festas especiais para voduns, gentis e caboclos, sendo que de acordo com o desenvolver do culto mudam-se os toques e os cânticos também, dependendo da família ou linha de entidades que se queira homenagear. Contudo os voduns não são celebrados juntamente com gentis ou caboclos, a festa destes ocorre separadamente, com toques especiais em língua jeje ou nagô, isto é, num jeje(fon) intraduzível, deturpado naturalmente no decorrer de séculos, o que torna na maioria das vezes imprecisa sua origem, isto se deve também ao fato de que o tambor-de-mina, com exceção da Casa das Minas, ser um mixto de elementos nagôs (yourubás), jeje (ewe-fon), fanti-ashanti, ketu, cambinda (angola-congo), indígenas e europeus(catolicismo romano). Por essa riqueza cultural e pelo próprio sincretismo presente no culto fica difícil separar Tambor-de-Mina e Encantaria, Terecô ou Tambor da Mata já que muitas casas de culto se dedicam a todas essas vertentes similares e intrínsecas. Entretanto, o que de fato vem descaracterizando o tambor de mina, é a influência direta ou indireta de denominações não originárias do Maranhão, como a Umbanda e o Candomblé sobre muitos pais e mães-de-santo maranhenses

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